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A herança

25/06/2014

Editorial – Jornal Pequeno

Sarney se foi. Em meio ao ruído das vaias que se acostumou a ouvir no Brasil inteiro, um dos principais líderes civis da ditadura militar que envergonhou o país e sitiou a democracia anunciou que está deixando a vida pública. Não será mais candidato, provavelmente porque a idade não permite ou as vaias que ameaçam a sua reeleição não deixam.

 

Talvez que isso represente muito para o Brasil. O Brasil que combateu a ditadura, o Brasil que combateu a corrupção, o Brasil que lutou pela liberdade, que pagou caro com a tortura, o Brasil que alcançou a democracia e se libertou. Mas o que representa, afinal, para o Maranhão? Sarney não será mais senador, mas sua herança de manipulação das instituições públicas, de confisco dos mais lídimos direitos de sucessivas gerações permanecerá nesse Estado. Golpes como o da Refinaria Premium, abuso de poder político e econômico, soterramento de lideranças em ascensão ainda estão em voga. Toda a prática vivenciada durante quase 50 anos de um modelo político concentrador permanecerá viva nas mãos de seus herdeiros políticos.

 

O Maranhão, símbolo e última cidadela do coronelismo nacional e território da última oligarquia sobrevivente no país, não encontrará a paz facilmente. Os prefeitos, os deputados, os vereadores, senadores do Maranhão aprenderam a fazer política seguindo a cartilha de Sarney. E nessa cartilha os fins justificam os meios. Uma concepção ideológica centrada no poder pelo poder, que não conseguiu vencer o analfabetismo, que agravou a pobreza, patrocinou a grilagem e a especulação imobiliária da terra, que privilegiou as elites em detrimento de qualquer esforço social, não será modificada de um dia para o outro. Muita coisa da vida pública apodreceu nestes quase 50 anos.

 

Até o modus operandi de Sarney pode ser identificado na eleição que acontecerá no Maranhão ainda este ano. E está aí o Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios do Maranhão, para confirmar que, concorrendo ou não a um mandato, Sarney mantém intocável o modelo político que dita as regras eleitorais e outras regras políticas nesse Estado. Com este Fundo, a oposição pode ter que enfrentar os efeitos devastadores de uma imensa soma de recursos sendo despejada nas contas das prefeituras.

 

De modos que o alívio do Brasil com a saída de Sarney da vida pública não servirá ao Maranhão de imediato. Os tentáculos do sarneisismo se solidificaram a tal ponto nesse Estado, que, provavelmente, mesmo na possibilidade da oposição vencer este pleito eleitoral, levará algum tempo até que o Maranhão possa ser livre. Livre de um modelo político concebido para se eternizar, da mesma forma que foram concebidos todos os regimes ditatoriais. Não será fácil se livrar dessa herança.

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